Psicologia Suja
Sofia FaveroNeste livro, Sofia Favero explora a potência dos afetos
infames, dentre eles a raiva, culpa e tristeza, como forma de dar outros
destinos à vivência de ser minorizada. As cenas em que pessoas são atingidas
pelo racismo e sexismo são capazes de gerar respostas emocionais complexas,
ligadas a sensações que, paradoxalmente, nos educam a lutar contra. Em diálogo
com a negatividade queer e os estudos críticos da branquitude, Favero conjuga a
brutalidade destinada a travestis no Brasil como estratégia para imaginar
outros mundos, propondo uma leitura psicológica sobre as constantes humilhações
e assujeitamentos a que mulheres, pessoas negras, gordas e LGBT+s têm sido
expostas em seus cotidianos.
Articulando conceitos e saberes como pulsão de morte,
erotismo, cancelamento, afropessimismo e destransição, ela aposta na sujeira
como forma de resistir ao imperativo da limpeza e da assepsia que as recentes
“clínicas da diversidade” têm investido. No lugar disso, a autora encara o sujo
como uma pergunta ativa. O que fazemos com a violência anti-trans disseminada
na cultura? Diante do quadro mortífero causado pela desigualdade social e pela
injustiça epistêmica, Sofia escreve com fúria sobre experiências pessoais, na
busca de sugerir à clínica uma postura mais sacana, criminosa, no próprio ato
de ouvir. Sujas são aquelas pessoas que não são nem sujeito (condição política)
nem objeto (condição de desejo).
Psicologia Suja é um livro provocativo e certamente marca a
força dos estudos trans nesse território denso que é o campo do cuidado,
propondo usos políticos da irritação e do arrependimento. Afinal, uma clínica
software já conhecemos, podemos fortalecer uma clínica malware? Esse é o ousado
convite que Sofia faz a quem lê.